A transformação digital e os impactos no mercado de trabalho: estudo dos anúncios de emprego na web para profissionais da informação no setor privado
Francisco Carlos Paletta, e José-Antonio Moreiro-González
Introdução. O ponto central é identificar e valorizar as oportunidades de emprego em ciência da informação a partir das competências nas tecnologias da informação e comunicações, assim como da análise das atribuições, conhecimentos e habilidades que categorizam o emprego no ambiente digital.
Método. O método de análise de conteúdo textual tem duas fases distintas. Consistem na busca, seleção, categorização e análise do conteúdo das propagandas e, posteriormente, na interpretação dos requisitos dos anúncios em relação à capacitação digital dos profissionais.
Análise. O objetivo é avaliar os conteúdos relacionados com a transformação digital expostos nas ofertas de trabalho na web para profissionais da ciência da informação no Brasil.
Resultados. Os resultados são apresentados de acordo com os nomes dados às profissões da informação nos anúncios. Desde as categorias de arquivista, bibliotecário-documentalista e cientista da informação se explica como a transformação digital afeta as denominações específicas em que se dividem, tendo em conta o impacto das tecnologias da informação e comunicação nas atividades que desenvolvem, a remuneração proposta e as características mais notáveis dos empregos resultantes.
Conclusão. Em conclusão, da análise se deduz que o reconhecimento profissional e salarial dos profissionais da informação é maior quanto mais capacitados estão para atender as atividades digitais. A procura por competências relacionadas com as tecnologias da informação e comunicação é indispensável nos perfis profissionais mais modernos, tanto das funções clássicas quanto das exigidas pela sociedade e economia digitais.
DOI: https://doi.org/10.47989/irpaper904
Introdução
Os anúncios de emprego são os recursos mais habituais para recrutar recursos humanos. As ofertas descrevem as atividades e atribuições a desenvolver nas vagas disponíveis, junto aos conhecimentos, competências, formação e experiência requeridos. Também informam da disposição da contratação, da faixa salarial e de outros benefícios. Mesmo que a intenção dos anúncios seja atrair os melhores talentos para cada demanda de trabalho, o seu conteúdo revela as previsões do empregador em torno do candidato procurado. Contribuem de forma efetiva em mapear o potencial do mercado de trabalho, indicar aos estudantes da área as tendências de atuação profissional de sua especialidade assim como auxiliar a quem procura emprego, a organizar o seu currículo (Nielsen, 2013). A transformação digital tem afetado a forma de difundir as ofertas de emprego, pois a web tornou-se o meio referencial para manter a tradição jornalística dos anúncios classificados (Oda e Bahia 2019).
A análise de anúncios de emprego apresenta-se como via confiável de análise e estudo do mercado de trabalho. Na ciência da informação os anúncios são uma fonte confiável e útil para pesquisar os conhecimentos, as competências e as habilidades que marcam a atividade profissional (Dutra e Carvalho 2006), num momento caraterizado por uma intensa transformação digital que repercute nas profissões da informação. As ofertas de emprego contêm conhecimento valioso para fazer mineração de dados. Trata-se de explorar a situação do emprego em todos os aspectos envolvidos no cenário digital, sem esquecer suas caraterísticas gerais e socioeconómicas. Para fazê-lo, Catho foi a fonte principal e de início única, depois alargada através da contribuição complementar de outros portais de vagas de emprego que se expõem detalhados na metodologia. A análise está alinhada com outros estudos em áreas de trabalho semelhantes e prossegue pesquisas anteriores sobre o mercado de trabalho e a formação profissional. A plataforma de anúncios de emprego Catho já fornecera os dados de uma pesquisa publicada em 2006 (Dutra e Carvalho), outra em 2009 (Cunha), além da promovida em 2010 pela FAPESP, no Projeto: Ofertas de trabalho na Web para os profissionais brasileiros da Informação-Documentação. Análise das competências e habilidades exigidas pelas empresas e instituições. (Moreiro e Vergueiro 2012; Moreiro et al., 2012) e as de Eliana Bahia em referência ao setor arquivístico (2018 e 2019).
O marco de referência é a transformação profunda que tanto afeta a vida na era digital (Majchrzak, Markus, Wareham 2016) bem como o papel determinante que protagonizam as tecnologias da informação e comunicação em qualquer desafio social (Ballesteros 2013). Em meados da década anterior e com relação aos processos digitais, os perfis de informação tradicionais (arquivista, bibliotecário, gestor de informação, entre outros) começam a exibir um caráter híbrido com mistura de conhecimentos, capacidades e graduações de várias especialidades, notadamente de administração de empresas, marketing, informática e comunicação junto as de ciência da informação (Lima 2007). Em paralelo, aumenta a demanda congruente de educação e de atualização por parte dos empregadores (Moreiro e Paletta 2019). Esta observação das ofertas de emprego centra-se nas descrições feitas pelas organizações e empresas nas ofertas que manifestam o que esperam dos profissionais. E que revelam com sutileza o sentido das coisas (Myburgh 2005).
Objetivos e contexto: O objetivo último é analisar e avaliar os conteúdos relacionados com a transformação digital expostos nas ofertas de trabalho na web para profissionais brasileiros da ciência da informação:
Com sentido operativo, se trata de buscar, recuperar e minerar as ofertas identificadas para extrair as atividades e os conhecimentos correspondentes, assim como as competências e requisitos relacionados ao ambiente digital.
Como aquisição cognitiva, supõe verificar as demandas que fazem as empresas, e o setor privado em geral, para o acesso ao mercado de trabalho desses profissionais.
O eixo é preencher com informações abrangentes e precisas o espaço sobre as oportunidades de emprego em ciência da informação baseadas nas tecnologias da informação e comunicação, ao tempo que acrescentar as atribuições, conhecimentos e competências necessários para umas categorias de caráter digital. O que tem consequências imediatas sobre a formação que permite possuir esses atributos profissionais e sobre a atualização correspondente a um cenário dinâmico e instável. As constantes mudanças nas tecnologias da informação e comunicação demandam o seguimento continuado da realidade profissional (Okamoto e Polger 2012). Em especial porque os profissionais da informação desenvolvem suas tarefas em empresas e organizações de qualquer sector de atividade com ferramentas, metodologia e gestão digitais (Tam e Robertson 2002). Há um acompanhamento atento as tendências do cenário digital, em especial no relativo à evolução do perfil profissional, o que às vezes é feito a partir da análise das ofertas de emprego (Croneis e Henderson 2002). Neste contexto incluem-se várias contribuições de autores brasileiros como Bahia (2018), Paletta e Milanesi (2016); Reyes et al., (2017); Tomaèl e Alvarenga (2000) e Cunha (2009). Portanto, serve ainda para adiantar-se a sua evolução e determinar o desenvolvimento e o redesenho curricular nos estudos universitários de ciência da informação. Embora, sem dúvida, as descrições das vagas oferecidas reflitam sobre as competências e habilidades requeridas pelas empresas para atrair o pessoal mais qualificado.
Metodologia
A análise de conteúdo é um método qualitativo de pesquisa social usado para interpretar a evidência da expressão linguística (Delgado e Gutiérrez 1999). A informação é geralmente extraída utilizando ferramentas que identificam as palavras e declarações do corpus de anúncios (Freitas e Janisek 2000). A observação dos anúncios de trabalho na web oferece a vantagem de exibir informações diretamente, sem depender da predisposição e objetividade das pessoas, como acontece quando se utilizam pesquisas ou entrevistas como método de coleta. Também facilita a consulta e sua acessibilidade imediata, pois não é preciso recorrer a nenhum outro serviço para busca, acesso e recuperação da informação.
A capacidade difusora dos portais vem potenciada pela repercussão imediata nas redes sociais. No entanto, requer uma dedicação intensa e tempo suficiente para selecionar a amostra segundo a conveniência de seu conteúdo e estudá-lo posteriormente (Kim e Angnakoon 2016). A sistemática de coleta de dados desenvolve-se em duas fases. A primeira é a de busca dos anúncios e a sua posterior análise textual, cuja chave reside na obtenção de uma amostra, neste caso formada por compilação. E depois, a fase de interpretação dos dados.
Fase de busca e análise
- Coleta de dados: a ideia inicial era recolher só as ofertas de emprego anunciadas na plataforma Catho no período de 02/06/2019 até 22/10/2019 (FAPESP 2019/02595-8. Projeto: Competências e habilidades digitais na formação e nos perfis profissionais da ciência da informação no Brasil, 2013-2018). Devido à alteração da política de divulgação de Catho, cuja linha de preferência atual é o banco de currículos, ouve um alargamento das fontes de busca. Passaram a contribuir com informação, ainda que completiva, Linkedin, Infojobs; buscojobs.com.br, Procurando Emprego, curriculum.com.br, INFOhome, Teletime, vagas.com, e Google vagas que foram escolhidos por serem os portais de vagas de emprego que veiculam o maior número de anúncios. Mesmo com a contributo de fontes de trabalho específicas da ciência da informação, tais como o Portal do Bibliotecário e com o acompanhamento atento das ofertas no âmbito da intervenção do Conselho Regional de Biblioteconomia 8ª Região (CRB-8ª) que também se liga a ofertas de outros Conselhos Regionais de Biblioteconomia As ofertas para estagiários não se selecionaram pela interinidade e temporalidade das suas atividades, mas também pelas suas descrições exíguas e genéricas. A busca utilizou os nomes dos profissionais identificados no projeto FAPESP 2010 e mostrados na tabela 1, acrescentados com perfis específicos. Sem esquecer de procurar pelas tarefas e técnicas executadas, com resposta positiva nos casos de catalogação, digitalização, arquitetura da informação-Web designer ou inteligência competitiva.
Identificação e cancelamento das repetições do mesmo anúncio de emprego.
Termo de busca | Vagas recuperadas | Vagas selecionadas |
---|---|---|
Arquivista | 398 | 89 |
Bibliotecário-Documentalista | 174 | 151 |
Cientista-Gestor da Informação | 121 | 43 |
Arquiteto da Informação-Web Designer-SEO | 113 | 41 |
Digitalizador | 352 | 12 |
Inteligência Competitiva | 17 | 5 |
Total | 1.175 | 341 |
As ofertas foram selecionadas quando incluíssem nos seus requisitos uma graduação em ciência da informação, junto a atividades a desenvolver e conhecimentos específicos para exercer as profissões da informação sempre que relacionados com a transformação digital. Porém, as não eleitas intensificaram a dedicação à análise, até identificar as razões da tomada de decisão. Em seguida, os dados coletados se sistematizaram estatisticamente (Moreiro 1998).
Cópia seletiva da informação e formatação de cada registro do corpus resultante para integração numa base de dados Excel.
Elaboração de uma estrutura taxonômica plana que teve como antecedente o vocabulário extraído no referido projeto de 2010 (Moreiro et al., 2012); (Moreiro e Vergueiro 2012). No projeto de 2019 a busca, identificação e extração da terminologia foi feita por expertos (Paletta e Moreiro-González 2019). Foram apenas recolhidos os conhecimentos e atividades de caráter específico em tabelas Excel dinâmicas que mantinham o contexto das vagas de origem. Para organizar o vocabulário extraído se empregaram os nove macrotermos do Euro-referencial I-D (ECIA, 2005), a partir dos quais se estabelecera o desenvolvimento da categorização da taxonomia mediante a aplicação do software Apache SOLR (Kim e Angnakoon 2016).
Fase de interpretação
Busca explicar a realidade à qual se referem os dados produzidos dentro do contexto determinado pelo comportamento das ofertas de trabalho feitas pelas empresas (Moreiro et al., 2012). Neste caso, a interpretação não leva em conta a frequência de aparecimento dos termos e a categorização feita ao aplicar ao corpus a taxonomia dos termos. Permite identificar as atividades, conhecimentos e competências das profissões da informação e acresce a percepção dos perfis que os profissionais precisam cultivar para desenvolver-se em suas ocupações e tarefas.
Resultados
A pesquisa identificou 341 vagas em 255 anúncios conformes com as condições de busca. A amostra é constituída por registros que refletem uma situação real, pois correspondem a informações sobre ofertas vigentes, não arquivadas, e garantem a análise pela variedade de descrições oferecidas (Creswell 2003). Mesmo assim, é inesperado que 559 das 1.175 vagas recuperadas não requisitassem atividades nem conhecimentos respeitantes à transformação digital. Ademais, outras 110 continham apenas atividades sem conexão com conhecimentos específicos. Em 17 ocasiões, as oportunidades faziam referência somente a conhecimentos em "pacote Office" E, em 17 ocasiões, as oportunidades faziam referência somente a conhecimentos em “pacote Office”, sem qualquer outro conhecimento em relação à transformação digital.
Conhecimentos | Oc. | Conhecimentos | Oc. |
---|---|---|---|
MSOFFICE | 121 | Bases de dados | 21 |
OS | 81 | Decodificação | 20 |
Conhecimentos de Internet | 74 | Conservação do acervo | 20 |
Conhecimentos de informática | 62 | Mineração de dados | 20 |
Recursos informacionais eletrônicos | 39 | SEO | 19 |
Digitalização | 37 | Documentos digitais | 19 |
Conhecimentos de Excel | 36 | Fontes de informação digitais | 18 |
Software | 26 | Produtores de bases de dados | 16 |
Sistemas de organização do conhecimento | 24 | Gestão de documentos digitais | 15 |
Bases de conhecimento | 23 | HTML | 15 |
Bancos e bases de dados | 22 |
Mostram-se os conhecimentos relativos ao entorno digital que apareceram como requisitos nas vagas analisadas com mais de 15 ocorrências (Oc.). A frequência de aparição determina quais são os conhecimentos mais caraterísticos e comuns dos profissionais da informação, também os de conceitualização mais genérica. Mesmo assim, a tabela destaca a utilização obrigatória de ferramentas transversais de automação de escritório ao processar textos, manipular folhas de cálculo, listas e tabelas de dados, preparar apresentações, operar navegadores, gerir correio electrónico e agendas e até receber formação através do computador, tal como realçado pela forte presença do MSOFFICE, OS, conhecimentos de internet, conhecimentos de informática ou conhecimentos de excel. Estes conhecimentos não são estritamente específicos do trabalho dos profissionais da informação, mas requisitos para que a maioria das profissões atuais faça o seu trabalho diário, que também afeta a vida quotidiana dos cidadãos da sociedade digital e cuja falta, por diferentes fatores, causa no digital divide (Bagchi, 2005). As vagas de trabalho atuais são concebidas com a tecnologia como parte integrante delas e não apenas como um instrumento, mais ainda quando nas profissões da informação esses conhecimentos vão além do simples nível de usuário de informática. Ao mesmo tempo, estas ferramentas de automação de escritório preparam e facilitam para a utilização especializada das tecnologias da informação e comunicação na ciência da informação.
Ao relacionar nos resultados apresentados as habilidades em automação de escritório com a desenvoltura para trabalhar com linguagens de programação e com aplicações de finalidade técnica nas profissões da informação, vê-se com clareza como está aumentando o peso dos conhecimentos informáticos.
Dois outros grupos de conhecimentos relacionados podem definir-se. Em primeiro lugar, um em redor dos documentos digitais, que inclui a modificação da reprodução e o acesso a recursos analógicos através de processos de digitalização, bem como as transferências de formato digital, assim como a gestão e preservação do conhecimento e das colecções digitais. Outro grupo é constituído por saberes relacionados com a gestão das colecções de informação estruturada em bancos e bases de dados, assim como em bases de conhecimento, um tipo de base de dados para a gestão do conhecimento.
A taxonomia realizada na pesquisa feita nos anos 2010 e 2011 atingia 2.359 termos em até seis níveis de subordinação (Moreiro e Vergueiro 2012). Destes, 525 tinham a ver com tecnologias de informação e comunicação e transformação digital, que agora abrangem 651 entradas. A Tabela 3 contrapõe as denominações dos perfis profissionais da área da ciência da informação a quem se dirigiam os anúncios de 2010-2011, e que se mostram na segunda coluna, com as identificadas na análise atual, contidas na terceira coluna. Precisamente as denominações específicas identificadas no projeto de 2019 falam da rápida evolução e da tendência para um caráter cada vez mais digital dos perfis profissionais. A diferença apreciável de quase 20% nas denominações de perfis profissionais aparecidas em menos de uma década, se devem as atividades desenvolvidas como consequência da transformação digital.
Denominação genérica | Denominações específicas | |||
---|---|---|---|---|
Projeto FAPESP 2010 | Projeto FAPESP 2019 | |||
Arquivista-Museólogo |
Administrador de arquivos Arquivista e museólogo Consultor de arquivologia Encarregado do arquivo médico; jurídico; escolar; ... Especialista em documentação arquivística Especialista em organização de arquivos Gestor de documentos |
Administrador de arquivo empresarial Analista de gestão de arquivo Analista de acervo (Museologia) Assistente de arquivo/de documentação Arquivista/bibliotecário Arquivista de documentação Auxiliar de arquivo Digitalizador Especialista em organização de documentos/Administrador de banco de dados Operador de scanner/digitalização Supervisor de arquivo/documentação Técnico de arquivo Técnico de preservação |
||
Bibliotecário-Documentalista |
Analista de documentação Bibliotecários Bibliógrafo Biblioteconomista Coordenador de bibliotecas Documentalista Documentador Especialista em documentação/informação Gerente da documentação-Gestor da informação Técnico em suportes da documentação Técnico de documentação Técnico de biblioteconomia |
Analista de documentação Analista documental Assistente de documentação Auxiliar administrativo de biblioteca Auxiliar de biblioteca Auxiliar de documentação Assistente de biblioteca Biblioteconomista Bibliotecário/Arquivista Bibliotecário de dados Bibliotecário-Gestor de conhecimento Coordenador de bibliotecas Documentalista Documentalista de sistemas Documentador Especialista em informação Infoeducador Técnico de documentação Técnico de biblioteconomia |
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Cientista da Informação |
Assessor/Gestor de projetos Consultor de informação Gestor do conteúdo web Pesquisador de informações em rede SEO Supervisor do controle documental Técnico em arquitetura da informação Webmaster-Web Publisher |
Administrador de sítios Analista de dados Analista de informação gerencial Analista de inteligência competitiva Analista de marketing de conteúdo Analista de mídias (Social media) Analista de produto Analista/Consultor/Gestor de projetos Analista de SEO/WEB Analytic Analista de tecnologia da informação Arquiteto de informação/UX Assistente de e-comercio Cientista de dados Cientista da informação Consultor de informação Desenvolvedor de sistemas Gestor do conhecimento UXwriter Web designer Webmaster-Web Publisher |
Nas secções seguintes são apresentados em pormenor os comentários a este quadro para cada uma das denominações genéricas.
Análise dos resultados e discussão
Em seguida são analisados e discutidos os resultados obtidos em referência a procura pelos nomes genéricos dos profissionais: arquivista, museólogo; bibliotecário, documentalista; e cientista da informação.
Vagas de arquivistas e museólogos
O elevado número de registos recuperados ao buscar por “arquivista” tem a ver com a presença de arquivo ou arquivista no texto dos anúncios. Mesmo que muitos não estejam de interesse, pois não contém nenhuma informação referente a transformação digital ou não mostram pertinência ao objeto da pesquisa.
Em relação a transformação digital nota-se que a projeção do arquivo aumenta na medida em que gera valor desde os dados que conserva e difunde. Isto ocasiona que, no lugar de gestor de documentos, as ofertas de emprego demandam por analista de gestão de arquivo, em aproximação as técnicas da administração de empresas desenvolvidas mediante as tecnologias da informação e comunicação. A presença de vagas para especialistas em organização de documentos já tinha sido identificada (Bahia e Moreiro 2019), mas sem relação com os modelos de gestão do conhecimento, especialmente o marketing digital como salientam Prado e Pinto (2018). O envolvimento do marketing melhora a percepção e permite conhecer a satisfação dos usuários com o serviço recebido (Amaral 2011).
Algumas das vagas não consideradas na análise da pesquisa continham entre suas atividades "organizar documentos". Porém estabeleciam funções de auxiliares ou assistentes não correspondentes as técnicas arquivísticas. Na amostra, 66 anúncios para administrador e gerenciador de arquivos empresariais, com ensino médio, ofereciam incumbências inadequadas. Inclusive nas vagas para bibliotecário solicitam-se pessoas formadas na ciência da informação para atividades administrativas ou para arquivar documentos com experiência na sistematização da informação e na organização de qualquer tipo de acervo. Não obstante, o número de ofertas que misturam funções administrativas com as distintivas dos arquivistas pode ser uma decisão empresarial para ocupá-las sem as condições que impõem os sindicatos, com menor piso salarial e logicamente fora da fiscalização dos Conselhos Regionais de Biblioteconomia. Antes de analisar as remunerações específicas, convém comparar as gerais.
Arquivistas - Museólogos | Bibliotecários - Documentalistas | Cientistas da Informação | ||||
---|---|---|---|---|---|---|
Remuneração média | R$ | € | R$ | € | R$ | € |
1.462 | 325 | 3.006 | 669 | 4.853 | 1.080 | |
De R$ 1.001 a 2.000 (De € 223 a 445), por ocorrências | 9 oc. | 5 oc. | 7 oc. | |||
Salário “a combinar” | 35,48% | 45,16% | 62,63% |
A tabela 4, expressa os salários em reais pela origem dos dados e em euros. Neste caso os dados se oferecem em agrupação das denominações específicas nas denominações genéricas arquivistas - museólogos, bibliotecários - documentalistas, e cientistas da informação. O valor médio de cotação no período 20/06/2019 a 22/10/2019 foi de 4,492 reais por euro (Banco Central do Brasil). Os valores de remuneração são mensais e não acrescentam os benefícios complementários do vencimento básico. O número das ocorrências de ofertas de R$ 1.001 a 2.000 mostra um comportamento irregular. A percentagem dos salários “a combinar” cresce conforme a remuneração média é maior. Pode esconder a possibilidade de remuneração superior à declarada.
Categorias | Salário | R$ | € |
---|---|---|---|
Arquivista | Remuneração média | 1.462 | 325 |
Salário superior | 2.100 | 467 | |
Salário inferior | 1.100 | 244 | |
Auxiliar de arquivo | Remuneração média | 1.312 | 292 |
Assistente de arquivo | Remuneração média | 1.900 | 423 |
Técnico de preservação | Remuneração média | 1.950 | 434 |
Operador de digitalização | Remuneração média | 1.240 | 276 |
O argumento de que algumas ofertas confundem atividades de caráter administrativo com as próprias dos arquivistas, é agora reforçado pelo fato de observar que apenas existem diferenças na remuneração média anunciada para vagas de arquivista, em relação as de auxiliar e de assistente de arquivo, que atinge a média mais elevada deste, não sendo a categoria mais qualificada. As ofertas salariais dos anúncios para arquivistas presentam a dispersão inferior entre as categorizações mostradas, mesmo que o extremo seja bastante baixo. A pesquisa registra que se trata de uma remuneração incompatível para um titulado superior. Dado o escasso número de ocorrências de muitas das denominações profissionais, nesta tabela o termo arquivista inclui os de Analista de gestão de arquivo, arquivista de documentação, Administrador de arquivo empresarial e especialista em organização de documentos. Pela sua parte, operador de digitalização também abrange as denominações de operador de scanner/digitalização e digitalizador. Finalmente, assistente de arquivo é um sinónimo profissional de assistente de documentação.
Quinze das ofertas para arquivista aludem ao pacote Office como único conhecimento informático requerido. Em outras onze oportunidades, aparecem os formatos convencionais de Word, Excel ou PDF. Mesmo sendo um conhecimento comum, aumenta as possibilidades de obter emprego, pelo uso indispensável dos processadores de texto e planilhas (Bahia 2018). É certo que os profissionais da informação devem estar confortáveis e ser proficientes em tecnologias da informação e comunicação. Não obstante, limitar as capacidades digitais ao imprescindível pacote Office é um argumento para confundir as atividades dos arquivos com as próprias da função administrativa.
São numerosas as ferramentas, programas e serviços informáticos requeridos nas diversas denominações de digitalizador, operador de scanner e técnico de preservação que estão incorporados a categoria de arquivistas pelas atividades que realizam. O mesmo acontece com arquivista de documentos, onde, das quatro atividades listadas, duas são as de escanear e digitalizar documentos. Considerando todas as vagas da categoria "arquivista", a digitalização é a atividade de maior reiteração e se estabelece como condição indispensável para o adequado armazenamento e conservação (Schäfer e Flores 2013). Pode afirmar-se que a digitalização ganha importância ao favorecer a modernização administrativa e melhorar as condições de custódia, acesso e difusão dos documentos (Bahia 2018). A pesquisa identificou 352 vagas de digitalizador para serviços informáticos que ficavam longe dos propósitos arquivísticos.
Os termos incluídos na categoria de museólogo em 2010 produziram esta vez uma única resposta para analista de acervo, com conhecimentos de organização de fluxos de trabalho, gestão e catalogação no sistema Sophia, além do pacote Office. Fora de três vagas de estágio, não consideradas.
Vagas de bibliotecários e documentalistas
A diferença entre as 174 vagas recuperadas para a função de bibliotecário e as 151 selecionadas mostra a relação mais relevante entre os grupos de busca. Manifesta que é o termo profissional mais bem identificado e que suas atividades têm reconhecimento social. Contudo, na seleção de ofertas eliminou-se as que tinham descrições muito genéricas de requisitos, atividades-atribuições ou conhecimentos. Bem como 15 anúncios etiquetados como confidenciais com o intuito de fazer a seleção desde os currículos baseados nas plataformas, em sequência de uma nova linha de negócio. Se comprovou também que apareciam repetições temporais do mesmo anúncio. Estas circunstâncias explicam que apenas 15 dos 31 anúncios publicados no dia 01/07/2019 em curriculum.com puderam ser selecionados.
O conceito bibliotecário inclui as denominações de bibliotecário-arquivista e coordenador de bibliotecas, bem como a peculiar, mas cinco vezes repetida, de biblioteconomista. De modo semelhante se faz com técnicos de biblioteca e técnicos de biblioteconomia. Por sua vez, a classe bibliotecário-documentalista enquadra os perfis mais recentes em quatro vagas de gestor e curador de conhecimento, para desenvolver metodologias por projetos, necessariamente desde sistemas de gestão digital. E duas de bibliotecário de dados para gerir e analisar todos os dados da empresa, pelo que suas atribuições encaixam com as de cientistas da informação logo mostradas. Assim, em uma universidade o bibliotecário lida com as bases de dados de ensino, pesquisa, docência, atendimento as visitas do Ministério da Educação, estatísticas gerais e qualquer fonte de informação. Denominações que são expressivas da evolução digital dos bibliotecários pois, além do esperado cuidado dos dados, resolvem problemas organizativos ou de marketing ao trabalhar com linguagens de programação e aplicar recursos estatísticos a técnicas analíticas como machine learning, deep learning e análise de textos (Semeler; Pinto 2019). Enquanto o infoeducador utiliza os sistemas tecnológicos para estimular a aprendizagem.
Da análise das vagas ofertadas observa-se o requerimento de conhecimentos de caráter técnico-digital como tratamento físico dos documentos eletrônicos; prestação de serviços de informação on-line; produção de conteúdo para o website; análise, representação e organização digitais da informação; concepção informática de sistemas e unidades de informação; elaboração, manutenção e acesso as bases de dados e análise das tecnologias da informação e comunicação. Junto a conhecimentos transversais de avaliação; desenvolvimento de políticas e critérios de gestão, pesquisas e projetos; controle da qualidade; fomento de atividades ou elaboração de relatórios.
Termo de busca | Vagas recuperadas |
Vagas selecionadas |
---|---|---|
Catalogação | 57 | 19 |
Documentalista | 2 | 1 |
Documentador | 4 | 2 |
Documentação | 6.592 | 7 |
Documentação digital | 324 | 3 |
Os resultados da ampliação da procura por perfis profissionais específicos e por tarefas técnicas executadas verificaram que as vagas selecionadas por catalogação cumpriam o fixado na norma Z39.19 (National Information..., 2010) sobre os objetos de conteúdo. Quando se utiliza como termo de busca palavra documentação, 6.592 vagas são recuperadas, porém somente 7 vagas tem o perfil do profissional da área. No caso de documentalista expressam a restrição do seu uso no Brasil, mesmo que bibliotecário-documentalista seja como aparecem nos editais para os concursos das universidades públicas. Ao documentador é atribuída a criação, gestão e revisão de documentação de software, mas também a elaboração de recursos de e-learning, atividades correspondentes a profissionais da informação (Bolaños et al., 2013). Em documentação estão incluídas as vagas de analista de documentação-analista documental; técnico de documentação; assistente de documentação e auxiliar de documentação.
Categorias | Salário | R$ | € |
---|---|---|---|
Bibliotecários | Remuneração média | 3.006 | 669 |
Salário superior | 5.245 | 1.167 | |
Salário inferior | 1.600 | 356 | |
Bibliotecários-Documentalistas | Remuneração média | 2.000 | 445 |
Técnicos de biblioteca | Remuneração média | 1.326 | 295 |
Auxiliares de biblioteca | Remuneração média | 1.278 | 284 |
Auxiliares administrativos de biblioteca | Remuneração média | 1.500 | 334 |
Shahbazi e Hedatyati (2016) já constataram que quando os bibliotecários assumem perfis digitais o salário é superior. Os anúncios oferecem salários que oscila vá desde o superior para quatro vagas com atividades de digitalização, gestão e indexação eletrônicas, até o inferior para seis vagas com certo desempenho digital. No grupo de bibliotecários-documentalistas o salário "a combinar" aparece no 45,16% das ofertas, superior em 10 pontos ao mostrado na categoria dos arquivistas e que deixa aberta a possibilidade de que as competências e destrezas pessoais sejam reconhecidas ou, tal vez, oculte alguma insatisfação respeito as pretensões dos solicitantes.
Importante destacar que a pesquisa identificou que 31 vagas de analistas e controladores de documentação exigem aos solicitantes ter curso de farmácia e não admitem aos provenientes dos cursos de ciência da informação. Ou que para assistentes de documentação a formação seja em Administração de empresas, comércio exterior, engenharia, marketing, contabilidade e áreas correlatas. Em nenhuma delas aparecem como requisito as graduações de ciência da informação, ao preferir as áreas de aplicação. Se identificaram 4.578 casos em que isto acontece, referidos à documentação enquanto coleção de documentos, não como técnica para seu processamento, difusão e uso, precisamente as funções principais da ciência da informação. Ao longo dos últimos dez anos se observa que continua sendo difícil consolidar a imagem ou evitar o desconhecimento social das profissões da informação como notado por Prins e De Gier (1992). Outras quinze ocorrências relacionam as áreas de ciência da informação com a gestão administrativa, o que volta a situar as competências profissionais num nível médio. Com menções indiretas aparecem uma vaga do centro de apoio didático e de documentação da Universidade de São Paulo e sete vagas de analista para serviços de documentação médica com atividades como registrar e documentar todos os atendimentos e serviços executados, gerenciar arquivos físicos e virtuais ou mapear as necessidades de informação.
Vagas de cientistas-gestores da informação
Atendem-se agora as respostas obtidas nas consultas feitas por analista, gestor ou cientista de informação. E, até mesmo, pelo nome de ciência da informação que recuperou 1.285 resultados, mas nenhum era apropriado. As denominações profissionais atendidas neste apartado são consequência imediata da transformação digital e mostram que a gestão da informação participa tanto na geração de dados como na sua análise. Qualquer desempenho profissional integrado nesta classe exige que os candidatos sejam proficientes na utilização de metodologias tecnologias da informação e comunicação. Bem como ter um conhecimento elevado dos métodos estatísticos nas várias denominações de analistas, cujos perfis mais recentes são o dobro dos oferecidos no estudo de 2010. Além disso, quem trabalha no ambiente digital deve possuir capacidade para agir no contexto de atuação e conhecer as possibilidades de mudanças tecnológicas (Matt et al., 2015). Assim como contar com habilidades avançadas em tecnologias de informação e comunicação que lhe concedam autonomia, sem depender de suporte contínuo dos informáticos (Sánchez-Cuadrado et al., 2010). As empresas e organizações utilizam a capacidade de gestão oferecida pelas tecnologias da informação e comunicação para aumentar o valor económico do conhecimento no seu processo produtivo e gestor. Se considerarmos que no estudo feito em 2010 (Moreiro e Vergueiro 2012) não assomavam ofertas relacionadas com análise de dados, nem com big data e que aparecia só uma concernente a inteligência artificial, agora despontam como tendências em desenvolvimento. Mesmo que só cinco entradas consideram graduações de ciência da informação para estes perfis, assim como duas vagas para gestor de projetos.
Ainda está na primeira etapa a presença de profissionais da ciência da informação que respondam as exigências das denominações recolhidas no tabela 3, com conhecimentos em ciência de dados e inteligência artificial para simular certos processos da inteligência humana mediante interpolação matemática complexa. Assim como em linguagens de programação, bases e modelos de dados, editoração e linguagens de marcação. A contrapartida é que, quanto maior for a exigência, melhor em média são remunerados os empregos.
Categorias | Salário | R$ | € |
---|---|---|---|
Cientistas da informação | Remuneração média | 4.853 | 1.080 |
Salário superior | 10.000 | 2.226 | |
Salário inferior | 2.000 | 445 | |
Analista/Gestor de dados | Remuneração média | 5.250 | 1.168 |
Analista/Consultor/Gestor de projetos | 4.876 | 1.085 | |
Arquiteto de informação/UX | 3.742 | 833 | |
Bibliotecário/Cientista de dados | 5.184 | 1.154 | |
Web designer | 3.863 | 859 | |
Assistentes de informação | 1.785 | 397 |
As vagas de maior retribuição são duas de analista sênior para bancos de dados, com habilidades em SQL server e na importação de dados de arquivo e textos. Uma vaga de web designer e outra de consultor de projetos são as menos remuneradas. As ofertas deixam aberta a remuneração entre R$ 1.001 e R$ 2.000 para uma vaga de consultor de projetos, três de analista de e-commerce e outra de web designer, nas quais também a denominação não coincide com a condição dos requisitos. Este grupo de cientistas da informação oferece a maior porcentagem de ofertas com salário a combinar, até o 62,63%, que deixa aberto o ajuste entre as partes.
Na procura por técnicas profissionais, a plataforma Catho listou 113 vagas de arquitetura da informação, das quais apenas 15 foram selecionadas por estarem suas atividades ou requisitos de formação e de experiencia relacionados à ciência da informação. Junto a arquiteto da informação se situam as 23 aparições das diferentes denominações de analistas de experiência do usuário (uX) e de produtores de conteúdo, uXresearch, copywriter, webmaster, web designer, enquanto especialistas que se ocupam da criação e gestão de objetos digitais.
Em um momento de variação geral na comunicação, as empresas e serviços de informação aproveitam a capilaridade das redes sociais para comunicar-se com os usuários (Moreiro e Paletta 2019). Neste sentido, podemos obsercar que o marketing intervém decisivamente nas organizações produtoras e gestoras de informação, pois satisfaz as necessidades, percepções e preferências dos usuários ao garantir que os recursos e serviços oferecidos se intercambiem devidamente. Nos anúncios recolhidos, marketing digital aparece como sinónimo de “conteúdo bem-organizado”, do maior interesse na hora de atender a uns usuários que navegam autonomamente na procura de informação. Isto mantem a demanda de gestores de comunidades (community managers), que atendem a comunicação via redes sociais e blogs para recolher opiniões e melhorar os serviços e o posicionamento (Tomaèl e Alvarenga 2000). As mídias sociais, a administração de sítios e o marketing de conteúdos digitais passaram a ser cruciais para oferecer serviços de informação que respondam as demandas sociais (Halligan e Shah 2009). As ofertas para gestores de comunidades deixam um espaço aberto as atividades profissionais da informação, mas o requisito de formação nos cursos de ciência da informação fica como área correlata. Entretanto, consta sempre o requerimento de formação superior em cursos de comunicação social ou de administração de empresas. O que também acontece nas estratégias SEO (Search Engine Optimization), entre cujas ofertas de emprego unicamente 15 mostraram argumentos para ser consideradas.
Conclusões
Os nomes e funções laborais das profissões da informação oferecem muitas facetas de atividades, tantas que às vezes é difícil diferenciá-las de profissões afins, o que gera dificuldades na sua análise. Os anúncios mostram, nas mais diversas situações académicas e empresariais, a vantagem da flexibilidade enquanto habilidades de adaptação às tecnologias da informação e comunicação e a uma sociedade em constante mudança. Os profissionais da informação sempre atuaram em posições interdisciplinares e a análise da realidade digital deve de ser interpretada desde sua complexidade, uma vez que as atividades e ocupações procedem de diversos sectores de formação ou experiência, entre os quais se situa a ciência da informação. Esta situação leva as especialidades de ciência da informação a agir integradas no grande grupo de profissões que dependem das tecnologias da informação e comunicação e que intervêm diretamente na economia digital em um contexto que reforça as próprias tarefas e procedimentos técnicos. Também por esta razão, as profissões da informação estão a seguir ações nos repositórios de dados de empresas e organismos, numa realidade que exige capacidades e competências digitais que sejam transferíveis. Assim os egressos dos cursos de ciência da informação, além de trabalharem em unidades de informação autónomas, são incorporados em qualquer tipo de serviço de informação com presença digital nos seus objetos, procedimentos e gestão em empresas de todos os setores de atividade.
A rapidez com que evoluem as tecnologias da informação e comunicação tem um impacto imediato na implantação de projetos e serviços que não podem progredir sem colaboradores multidisciplinares. Os anúncios mostram que o profissional da informação é procurado para participar neste espaço. Porém, o nome do arquivista e do bibliotecário é uma ancoragem a um tipo de centro, os arquivos e bibliotecas, onde as empresas não se imaginam que se desenvolvem atividades da informação bem atuais e para as quais os arquivistas e os bibliotecários são competentes. No entanto, a tendência nas empresas é integrar equipes que trabalhem em ciência de dados, marketing empresarial, análise de produtos ou experiência do usuário nas que os profissionais da informação têm oportunidade para aplicar e refinar suas caraterísticas competências organizadoras, descritivas, analíticas e difusoras. A potencialidade laboral deste segmento de mercado leva aos profissionais da informação a sair de sua atuação tradicional e adequar-se ao notório progresso das tecnologias da informação e comunicação associadas às demandas dos negócios, áreas de dados e de inteligência artificial.
Resulta insólita a solicitação de atribuições e conhecimentos de caráter digital nas ofertas para arquivistas, quando hoje muitos dos arquivos institucionais e empresariais estão digitalizados e sua gestão documental é digital. Acontece o mesmo em numerosas ofertas para bibliotecários, porém nesta categoria é perceptível que, em situação longínqua, surgem diversas oportunidades associadas ao cenário digital. No campo de atuação dos cientistas e gestores do conhecimento as oportunidades de trabalho englobam muitos perfis profissionais associados às competências digitais. Face à crescente procura de perfis digitais mais especializados e sofisticados, a formação e a qualificação decidem sobre as oportunidades de aplicação. Num cenário que oferece um espaço amplo para o desenvolvimento das atividades profissionais da ciência da informação nos setores produtivo e público, bem como no ensino e pesquisa.
Quanto melhor seja o domínio de tarefas e a posse de conhecimentos de caráter digital dos profissionais provenientes dos cursos de ciência da informação, maior possibilidade de atuação em espaços participativos e vinculados, pois as competências da informação funcionam com eficácia em aliança com competências de outros setores profissionais em equipes com características multidisciplinar. Pelo que o âmbito formativo e profissional deve acolher as aptidões e os saberes complementares a desenvolver em espaços de atividade complexa. Além disso, é momento para considerar que os profissionais da ciência da informação interagem de maneira colaborativa outras áreas estratégicas como a ciência da computação e sistemas de informação em um cenário fortemente impactado pela transformação digital.
Acknowledgements
Esta pesquisa foi desenvolvida com apoio da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo, sob o número de processo 2019/02595-8, intitulada: Competências e habilidades digitais na formação e nos perfis profissionais da Ciência da Informação no Brasil, 2013-2018. Observatório Mercado de Trabalho em Informação e Documentação. Escola de Comunicação e Artes. Universidade de São Paulo.
About the authors
Francisco Carlos Paletta. Universidade de São Paulo. Departamento de Biblioteconomía y Documentación, Universidad Carlos III de Madrid ;Correo-e: fcpaletta@usp.br | ORCID iD: http://orcid.org/0000-0002-4112-5198
José-Antonio Moreiro-González. Departamento de Biblioteconomía y Documentación, Universidad Carlos III de Madrid Correo-e: jamore@bib.uc3m.es ORCID iD: http://orcid.org/0000-0002-8827-158X
Abstract in English
Introduction. The central point is the identification and assessment of the job opportunities in Information Science based on the competences in Information and Communications Technology (ICT) as well as on the analysis of the attributions, knowledges, and skills that categorize the jobs in digital environments.
Method. The method of textual analysis of these ads is divided in two distinct phases, beginning with the search, selection, categorization, and analysis of the content of the ads, and proceeding then to the interpretation of the job requisites regarding the digital qualification of the professionals.
Analysis. Our objective is to assess the contents related to the digital transformation mentioned in online job ads for information professionals in Brazil.
Results. The results are divided in accordance with the names given to the professions in the job ads. Based on the categories of archivist, librarian-documentalist, and information scientist we explain how the digital transformation affects the specific denominations of these professions, taking into account the impact of the ICT in the activities these professionals carry out, the proposed salaries, and the most notable characteristics of the resulting jobs.
Conclusions. From this analysis we conclude that the recognition of information professionals, both professional and in terms of income, is the better the more qualified they are to comply with digital activities. The search for competences related to the ICT is essential in modern professional profiles, both in terms of the more conventional functions and of those demanded by digital society and economy.
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Note: A link from the title is to an open access document. A link from the DOI is to the publisher's page for the document.
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